sábado, 12 de novembro de 2011

Janela da Alma

E aqui estou, olhando pela janela da alma do mundo
Contemplando esta linda confusão
Admirando o mar de gente acelerada
Sem face, somente suor e lágrimas
Um universo de dúvidas perpétuas
Que são tão sem resposta quanto a respiração
E inevitáveis quanto a existência.
Suas dores parecem escritas nas marcas do tempo
Refletindo nos cabelos brancos o caminho para paz
O peso da sabedoria adquirida que se perde na estrada
Dilui-se no afeto passado adiante e ressurge num sorriso
Sentimentos pretéritos que partem de nós sem despedida
Talvez assim seja melhor...
Deixar sob a cômoda da alma uma velha foto em preto e branco
Guardar num canto empoeirado da memória para não se perder
Almejar estar num lugar em que nunca tenha ido além
Alegremente além dos gestos que jamais ousei ter
Andar por aí como um nobre sem reino nem história
Mas tão mágico e efêmero que ao menor toque possa evaporar
Escrever cada dia como se fosse um conto
Mas há quem diga que todos os contos são mentiras
Embora nem toda mentira seja conto...
Só quero beijá-la mais uma vez para ter a certeza
Que em seus lábios encontrara a porta do paraíso
E que os meus estavam envenenados em minha ignorância
Por achar que ela poderia ser minha, mesmo que em sonhos..
Sim, deste conto não poderei fazer verdade.
Esta história está num pedestal alto demais
Tão alto que me falta altura para sequer tocá-la
Hei de admirá-la pela janela dos olhos do mundo
Enquanto seco dos meus as lágrimas de homem. 

domingo, 23 de outubro de 2011

Novos Ventos

Um poeta que desaprendeu as palavras do amor
Que não mais ergue o esplendor de alguém seu
Trocou o cálice do doce vinho pelo amargo copo de café frio
Como aqueles servidos numa rodoviária de algum lugar esquecido por Deus
Talvez seja apenas a velha tolice e romantismos antiquados...
Hoje me sirvo das lágrimas do passado inóspito
De músicas que insistem em tocar notas de felicidade de outrora
E guardo em algum lugar de minh'alma uma ponta de fé.
Sim, há quem diga que os poetas são seres abdicados desta.
Pobres mortais...
Mal sabem que no fundo os poetas são navios de fé a deriva
Perderam-se no norte do acreditar e buscam um horizonte
Envergonham-se em silêncio desse crer na humanidade
Guardam sorrisos cabisbaixos diante da descrença em si
Dividem com o espelho os olhos embargados de lágrimas
E acreditam que nas horas de sono terão a ansiada paz
O mundo é surdo... É cego... Mudo em sua tola ignorância
Lamento não ter lágrimas para escrever tais palavras
Embrutecida a alma e dilapidado o coração, busco sentido
Encontrar uma fuga nessa estrada sinuosa e escura
E repito a todo momento que não posso mais ter saudade
Do que se foi e do que virá...
Que os novos ventos do porvir ousem balançar meu velho tronco
Livrando-me das folhas secas do passado
E que eu possa escutar meus passos pisando em tais folhas
Deixando para trás o velho inverno espalhado pela calçada da alma
Enquanto meus olhos observam as flores do futuro brotar
Orando em silêncio para nunca desaprender do velho dom de sonhar.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Do fundo da minha alma...

Do fundo da minha alma eu desejo
Dias mais longos de primavera
Noites de amor eternas ao lado de um bem
Bolhas de sabão inundando a avenida
Estourando no peito arfante dos transeuntes


Do fundo da minha alma eu desejo
Menos pobreza material e mais riqueza humana
Mais sorrisos sinceros e abraços sem hora
Uma menininha de vermelho rodopiando numa praça
Caçando borboletas e arremessando sonhos aos passantes


Do fundo da minha alma eu desejo
Que a vida fosse mais sincera como a morte
Não prega peças e é fato resoluto com suas lágrimas destiladas
É a criação mais sincera do Divino após a humanidade
E não haveria fim mais poético para a mesma senão a morte


Do fundo da minha alma eu desejo
Que se pudesse falar o que sente sem medo
Sem repreender as palavras que transbordam o coração
Inundam nossa alma até não mais restar emoção
Nos afogamos em nós ao nos calarmos para o mundo


Do fundo da minha alma eu desejo
Que a eterna saudade do desconhecido nunca se apague
O constante sentimento de existir não me abandone
Mas haverá dias que sei que faltarão pernas pra me sustentar
Queira Deus então que não me faltem lágrimas para abrasar a alma


Do fundo da minha alma eu desejo
Que nunca me falte essa vaidade tola
Essa necessidade extrema de ter pequenas coragens
De crer que não sou um saco de palavras soltas
Flutuando num universo sem sentido e propósito


Do fundo da minha alma eu desejo
Em crer que a poesia é meu olhar nos olhos do mundo
Que além do grito de desespero, ela é a salvação
A misericórdia divina atuando na minha alma embrutecida
Mantendo viva a centelha da eternidade da alma


Do fundo da minha alma eu desejo
Que tudo isso não seja só um sonho
Onde não se pode perder uma coisa simples e rara
É a luz indecifrável que permeia meu ser em súplica
E é aquilo que desejo que nunca se perca em cada um de nós...


ESPERANÇA

terça-feira, 27 de setembro de 2011

A Lua dos Desconhecidos

Texto escrito a 4 mãos com a caríssima Janaína da Cunha! Espero que apreciem!


Dois desconhecidos,unidos por uma misteriosa unção
Aliados ao própósito de fazer uma ode a beleza daquela que ilumina a noite sombria
Que traz luz aos amantes em seus lençóis
Onde tecidos e corpos se misturam tomando única forma


Dois desconhecidos... duas almas que se encontram nas esquinas do coração
Não há nada, nem ninguém
Apenas a fome do desejo
No céu as estrelas murmuram sonhos, ilusões...
E os dois amantes poetizam chamas nas carnes nuas
Sob o olhar apaixonado da lua...


Dois desconhecidos... Envoltos numa penumbra sensual com seus corpos desnudos
Tudo que os guia são suas almas entrelaçadas
A luz adentra o quarto através das cortinas
Descortinando seus gozos latentes e iminentes
Ansiosos a cada palavra dita e não dita em seus silêncios 


Dois desconhecidos... dois olhares que mergulham num oceano de mistérios
Como ondas que vem, como ondas que vão
Sinuosa sintonia, sussurros que elevam o pensamento além dos sentidos...
A garrafa de vinho, esquecida no chão...
Os corpos se enlaçam numa dança, louca, impulsiva!
Diminui a razão...
E a ânsia explode em murmúrios de poesia!


Dois desconhecidos... numa dança onde somentes eles ouviam a canção
De tão ensandecidos que seus corpos estavam trouxeram inveja à Criação!
O universo teve de parar para admirar a dança do poeta e sua musa
O silêncio perpetuou sua união em lascívia, tesão e tortura
O suor escorria de seus corpos tal qual as palavras escorrem nas folhas da poesia
Ousaram criar, transcender e profanar!
E num salto em um abismo do universo de seus corpos
Encontraram nos braços um do outro o refúgio ansiado da necessidade indolente do querer!


Dois desconhecidos... bebendo da fonte suprema de Dioníso!
Não há Santos... pois o pecado devora a santidade.
Não há Pecadores... pois a santidade devora o pecado.
Só existem dois amantes ultrapassando todos os limites das vãs filosofias!
O poeta e sua musa violam os rituais mortais
Elevando a busca da alma em versos...
Versos esquecidos em livros proibidos... 
Versos desvendados num infinito desmistificado... profético!
As horas correm soltas... 
Os corpos exalam um perfume ébrio!


Dois desconhecidos... Seus corpos se perderam um no outro
Contra as convenções mundanas criaram o seu tempo
Um tempo sem dono, sem marcas e aspirações
Entre desejos proibidos e uma humanidade insaciável
Dois seres deixaram de Estar para, e por fim, Haver!
Somente exisitiam em si e para si!
Não haveria de ser memorável, pois memórias se apagam
Para eles haveria de ser inefável! 
E ainda mais, como tudo que jamais poderá ser apagado,
Para eles seria indelével.


Dois desconhecidos... o poeta e sua musa...
Sem promessas, só o toque... o desejo... o deleite!
Na cama, um redemoinho de sentimentos faz o tempo parar no espaço...
A chama incendeia a consciência... o tudo... o nada!
Um tempo sem dono, sem restrições!
E o pudor explode num terremoto de erotismo!
Lá fora, o sol tímido anuncia o despertar de um novo dia para os pobres mortais...
No altar das santas profanidades,
O poeta e sua musa, descansam... unidos num casulo afável...
Descansando sob o olhar prazeroso de Dionísio.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Um Trem para as Estrelas


O corpo já ébrio observava o horizonte
Escuro, cinza, soturno e belo
O corpo escorrendo pela cadeira tal qual o suor
Suor que escorria da garrafa da cerveja quente
Os sons da madrugada silenciosa o invadiam
Ressonavam nas paredes do quarto 
Se jogavam loucamente em seu peito
Que mais parece a velha rodoviária da cidade
Aportando e abrigando sentimentos perdidos
Choros mal destilados e copos meio vazios
Nesta noite apenas uma estrela ousou brilhar
Desafiava os sentimentos deste pobre errante
Que de tanto insistir seus olhos não mais queriam cerrar
Eles pareciam querer lhe fazer esperar o inusitado
Olhava o relógio e não haviam mais números
Estes deram lugar a sentimentos que de hora em hora o acometiam
A madrugada começara a se tornar longa...
A respiração trôpega...
Sem se dar conta em sua face uma única lágrima escorreu
Ao pingar em seu peito a olhou com um breve sorriso
Sentiu então o sol surgir no horizonte
Seus olhos da noite então se fecharam lentamente
Outra lágrima surgiu de repente e recolheu seu corpo
Pensou alto consigo em seus sonhos infantis e tolos
Tudo que eu queria nessa noite era pegar um trem para as estrelas...

domingo, 4 de setembro de 2011

O Caminho (Entre a Vida e a Morte...Amor!)


O ser humano é uma incógnita em seu egoísmo
Em constante cegueira prefere viver à margem
Crendo em suas frações de eternidade sofrível
Dando as mesmas proporções de base inverossímil.
Alimentando as lamúrias e regando sua alma de lágrimas
Falta mais humildade, mais humanidade...
Consciência histórica, material e social de existência
Maior que o universo externo em seu horizonte infindo,
Somente as estradas que traçam o espírito de cada ser.
Basta fechar os olhos e retroceder na história de nós
A vida é feita de frações, fragmentos e peças
E somente no tabuleiro da vida podemos entendê-las, encaixá-las...
Nos constituímos de frações de felicidade, fragmentos de sorrisos
Lampejos de experiências atravessando a existência a cada segundo
Em cada fração tudo foge do controle de ser para somente estar
Não há receita para viver nem caminho certo a percorrer
O nosso poder de crer nos guia pela estrada incerta do existir
A certeza de hoje pode vir a baixo na alvorada do porvir
É fácil ter em mente palavras que expressem uma opinião
Dar significado e transformá-las em ação... Ah, isso é pra poucos!
É tornar o tempo incoercível nosso maior confidente
Andar lado a lado com a paciência do cotidiano
E conviver com a impaciência de nascer sabendo que o fim é a garantia
Morrer é o privilégio que cabe ao nosso humilde viver.
Mas amar acima de tudo nós mesmos é o meio, o caminho.
É onde nos perdemos para nos encontrar em direção ao fim.
O início começa em nascer mas, com toda certeza vos afirmo:
Somente pelo amor há de se encontrar o caminho para a eternidade do viver!

sábado, 20 de agosto de 2011

Destino pousado aos ombros


Me pergunto a toda hora
E a resposta é sempre o silêncio
Tolamente deixo as portas abertas
Pra luz tímida adentrar pela janela
Quem sabe ouvir dos pássaros o seu cantar
E esperar algo bom em meu destino nos ombros pousar
Numa prece pedir por um novo tempo
Um tempo em que os anseios serão fatos resolutos
Não mais ver a vida passar sentado ao meio fio
Estender a mão e ter algo mais que o vento para segurar
Fechar os olhos sabendo que algo mais me guia
E confiar cegamente, ter simplesmente fé
Mais que acreditar no divino é crer em si
Ser potência e afeto em demasia
Duvidando do hoje sem saber do amanhã
É crer que mais que Deus, a resposta sou eu.
E você, quer vir comigo?

terça-feira, 26 de julho de 2011

Retrocesso de um Caminhante

Resta, acima de tudo, a velha sensação
Sensação da noite mal dormida
Do olhar outrora brilhante
Da saudade como um barco que insiste
Em do cais do meu peito não desancorar
Talvez seja cedo para tal...


Resta, acima de tudo, a velha sensação
Da poesia não escrita
Uma palavra não dita (quantas palavras...)
A atitude ausente
E o pesar tal qual o de uma criança
Que sem saber se vê perdida e sem alento


Resta, acima de tudo, a velha sensação
De em cada lugar nos ver em cada olhar
Que em cada canto há um pouco de nós
E que o mundo parecia somente nos esperar
Pois suas fronteiras eram nossas
E tudo parecia ser feliz em nossa felicidade


Resta, acima de tudo, a velha sensação
Do tatear no escuro em busca do passado
Na esperança de encontrar uma estrela
Que insiste em brilhar em meio ao negro céu
Te ver no fim da estrada como a lua
Que em meio a minha noite sempre era o meu guiar


Resta, acima de tudo, a velha sensação
De que a estrada aumenta a cada passo
E tudo pareceu se distanciar
Pois agora é o retrocesso de um caminhante
Que de mal acostumado sempre teve sua companhia
E de volta ao começo precisa aprender a caminhar


Resta, acima de tudo, a velha sensação
De em meus sonhos você ser perene
Talvez num esforço vazio do coração arrependido
De uma busca pela felicidade que se foi
E tolamente não abdicar da esperança cega
Que consome meu coração errante e apaixonado


Resta, acima de tudo, a velha sensação
De que seu sorriso agora brota de outros braços
Que sua felicidade pertence a outros abraços
E isso não é simples, não mesmo de viver
Quem diz que é nunca amou para valer
E assim como eu, não aprendeu a dizer adeus...

domingo, 3 de julho de 2011

Deixa a luz entrar...

Tem dias que tudo parece se esvair em nós
Cada todo se torna fração 
E se reduz ao infinito do não ser
Existindo num vazio maciço
Que ocupa uma alma oca e sem brilho.
Devíamos aprender a plantar algumas coisas...
Plantar algodão para colher nuvens com as mãos
Assim talvez ficássemos mais perto do firmamento
Semear abraços despretensiosos e sem hora
Quem sabe assim colheríamos calor humano
Regar sorrisos sinceros e gargalhadas em bom tom
Talvez assim afastaríamos o câncer da hipocrisia
Cultivar amor sem esperar que sempre haja flores
Afinal, há dias que as rosas tem espinhos
Mas certamente haverá dias que os espinhos terão rosas
Espalhar telefonemas inesperados no meio da noite
A não privação de dizer o que sente ao outro de verdade.
Não se deve esperar que as lágrimas da existência
Por bem ou mal, sejam o regador que lhe criará raízes
Estas somente o fincarão no solo ávido da solidão.
Deixa a luz entrar... 

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Transições

De que é feita a vida senão de transições
Forçadas ou não, só nos restam elas.
De lágrimas choradas até a alma secar
Da esperança que se mantém até a último minuto
De amores que são eternos enquanto duram
E no fim das contas resta o vazio
Junto a uma necessidade tola de preenchimento
Para um coração roto e cansado
Tornando as lacunas que nos fazem ser o que somos
O abismo entre mais um ser ou não ser.
Mas resta, acima de tudo, a involuntária respiração
Que nos leva a inevitabilidade da existência
De se admirar com o cotidiano amargo e cinza
Rir com o sorriso alheio sem pretensões
Não esperar nada das mais variadas ações
Ser a brisa que arrefece os inquietos
E a temida tempestade dos que temem o incerto.
Saber que muitas vezes dizer adeus é o melhor encontro
E que alguns reencontros podem ser mágicos.
A estrada da incerteza é obscura e nebulosa
E a oportunidade de se perder é apenas uma chance
Chance de, por mais duro que possa parecer,
Aprender um novo caminho a percorrer
Que quando uma porta se fecha diante de nós
Não significa que somos indignos ou incapazes
É apenas um sinal que é chegada a hora de acordar
Aprender que muitas vezes a melhor chance de se encontrar
Nos obriga diante da existência a se perder.

domingo, 12 de junho de 2011

Um inverno, um adeus

Nalgum canto perdi minha poesia
Em meio ao caos dos rabiscos desencontrados
Das lágrimas que caem indolentes
De lembranças turvas embotadas pelo cansaço da mente
Levada pela chuva que se arrasta nas calçadas
Maculando toda sua inocência e sinceridade
Que sabe rir como criança sentada num parque
Refletindo o sol na pureza de sua alma
A perdi talvez nas sombras das esquinas da vida
Que guardam encontros com espelhos sinceros
E revelam imagens das duras verdades da consciência
Aonde terá ido parar a minha poesia?
Que os ventos do gélido inverno a levem
E a entreguem a quem ofereça um sol que a aqueça
Fazendo brotar de seu rosto sorrisos de luz
Não hei de dizer adeus à ela, não mesmo
Talvez um "até logo", tímido e cabisbaixo
Ou talvez o melhor que posso lhe dar é o silêncio
É o máximo de sinceridade que cabe em mim
Jamais profanaria tamanho sentimento com palavras
Hei de lembrá-la com admiração e contemplação
Atravessado por momentos de torpor e pesar
Pra quem sabe um dia, se for de sua vontade
Possa bater novamente a minha porta
Quem sabe um dia.
Um dia...

domingo, 29 de maio de 2011

Inexplicável Querer

A madrugada traz consigo a insônia
Alimentada por uma vontade que transcende
É inexplicável, intangível e imensurável
Junto a chuva impertinente e sedutora
Atirando-se contra a janela em profusão
As luzes das ruas brincam de fazer formas
Travestindo-se em imagens que ludibriam o olhar
Um caleidoscópio de desejo que cai do céu
Girando na alma num universo sem forma
Que impulsionam o querer você
Em todo o caos da madrugada
Nas gotas da chuva libidinosa
Em cada luz que se refrata na retina
No bailar suntuoso onde o céu é testemunha
As lembranças dos corpos que giram
Dois amantes numa sinfonia regida ao luar
E o silêncio soturno ganha sentido
Se torna música onde somente nós podemos escutar
Como numa fração de segundo, tudo cessa
As respirações descompassam e as almas se inquietam
O universo teve de aplaudir a dança do poeta e sua musa
Dois seres tão singelos trouxeram inveja à Criação
Perceberam que o poeta transbordava em querer
Num sentimento nobre mas sem explicação
Entre ele e o universo só havia ela e nada mais
E nem mesmo a própria morte o faria desistir
A música não há de parar até que o inevitável aconteça
Que mesmo sendo profano iria até os confins por ela
Até o dia que de fato seu querer há de se consumar.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Oração ao Tempo

Até onde irá o poeta e seu torpor
Chorar às sombras na solidão dos dias
Procurar sentido nos caminhos da alma
Afogar a saudade que lhe consome o ser
Ter o poder de parar o tempo e retroceder
E em apenas um dia, numa escolha tudo mudar
Refazer o curso de sua história
E ver que sempre é tempo de aprender
Que se soubesse o quanto é duro errar
Jamais escolheria o caminho que hoje é seu viver
Ah, Tempo! Senhor das Existências!
Tende piedade da fraqueza dos que vivem!
Estes tolamente não sabem o peso de uma lágrima
Ainda mais quando cai da face de quem se ama
É inundar o próprio coração de tristeza sem se ver
Ah, Tempo! Senhor das Respostas!
Tende piedade daqueles que perderam seu amor!
Ninguém deveria em sã consciência passar por tanta dor
Muito menos cegamente escolher tamanho horror
Ah, Tempo, Tempo...
Porque fazes isso? 
Esperar seria a dádiva dos desesperados?
A lição dos pobres errantes?
Segure minha mão e puxe-me em direção ao firmamento
Ah, Tempo! Senhor da minha saudade!
Leva ela embora, pois viver assim é maldade
Aqui dentro desse peito mora um coração
E hoje o poeta lhe roga em clamor e oração:
"Você nunca amou, Tempo...
Leva ela embora pois a amo demais!
E a perdi para mim, para sempre e pra você...
Se não a me trouxer de volta, entregue a quem mereça
Mas o faça de uma vez, pois viver assim...
Ah, Tempo! Não há quem mereça!"

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Soneto à Musa Italiana

Sonhando com os montes da Toscana
Eis que a musa surge em meu caminho
Invade meu ser de forma insana
Sensual a deleito como o rubro vinho


Destila seu veneno em minha memória
A querer se torna parte do meu viver
Desejos extremos de forma peremptória
Jogaste minh'alma na treva de meu ser


Quero-a deveras, tanto e amiúde
E não há palavras que expressem tal querer
Hei de esperá-la em seu teor e plenitude


Num tempo em que tudo parece perecer
E todo o sentimento entregue a solitude
Trouxeste ao poeta um sentido para viver

terça-feira, 3 de maio de 2011

Ser em Prosa e Verso

Todo ser é um pouco prosa
É muito verso num mundo controverso
Poesia rimada e métrica
Que nem sempre seguem a regra da poética
Lirismo entoado num espírito épico
Odisséias num fragmento de espaço
Histórias não contadas num segundo
Música cantada numa pausa de mil compassos
Livro aberto com páginas em branco
Esperando alguém que queira contar sua história
Viver e escrever em suas memórias
É eterna dança sem fim
Marcada por passos que nem sempre seguem o som
Pois embalados podem flutuar no silêncio
Tirar os pés do chão sem sair do lugar
Num querer viver inevitável
Apesar do futuro certo ser sempre morrer
Todos tem um pouco de Deuses
E mal sabem que irão durar por toda a eternidade
Que em cada gesto podem refletir sua divindade
Em cada decepção as lágrimas amargas
E no dia seguinte a dura lição
Que levantar é necessário após ir de encontro ao chão
Todo ser é um pouco sim e muito não
Verdades injustas e mentiras sinceras
E uma tola e insistente capacidade de amar...

sábado, 30 de abril de 2011

Em algum lugar

A névoa que recobre a madrugada encanta
O sereno acaricia a dureza das ruas em silêncio
Arrefece o coração carpido do poeta em desalinho
As sombras se esgueiram em cada canto e gritam em cada cria
As luzes do morro bailam com o vento
Que traz consigo a lembrança de que em meio ao caos há vida
Em algum canto há alguém a sorrir em demasia
Noutro há uma mãe a chorar com um filho que desfalecia
Em algum lugar há dois amantes rodopiando ao som de seus corações
Noutro há inúmeros corações afogados em profunda solidão
Em alguma esquina há um homem esperando sua condução
Enquanto por aí há caminhantes aos montes sem direção
Em algum lugar há uma criança que nasce para a vida
Sem saber que ali mesmo já começara a morrer
Tão pura quanto a flor que desabrocha na primavera
Sem saber que o vil inverno ainda chegará
Em algum lugar há alguém que está traindo seu amor
Tolamente sem saber que está traindo suas próprias convicções
Noutro lugar há alguém amando loucamente
Enquanto em outros alguém espera somente uma oportunidade de amar
Em algum lugar há alguém que ora agradecendo pelo dom da vida
Em tantos outros o suicídio não para de rondar
O poeta carrega a desgraça dos homens
Lhe foram dados olhos para enxergar
E um sentimento que não permite que se debruce sobre si
É tanta dor e tanta alegria que não se consegue respirar
A noite fantasmas vem lhe visitar aos risos
E pela manhã os anjos vem lhe guiar aos prantos
Num viver em eterna tensão a espera do milagre
Em crer que é possível acreditar na humanidade
Que o amor voltará a beijar-lhe a face
Acreditar que a sorte não é uma utopia
E que apaixonar-se a primeira vista é possível(Sim, é...)
É rir das tolices do coração e chorar de emoção
Ter fé de que a poesia não lhe abandonará em sua solidão
De que irá sentir o gosto de suas lágrimas correndo pela garganta
E perder-se nas sinuosas estradas de sua insônia
Levantando seu semblante decaído diante de sua maior fraqueza
Num tempo em que virtudes são raras de se encontrar
É reconhecer-se na fragilidade humana
Ser duro quando a vida demanda
E ser terno consigo próprio para aprender a amar. 

domingo, 24 de abril de 2011

Soneto de Adeus do Poeta

De tanto buscar o inefável sorriso
O absorto poeta encontrou o pranto
Nas palavras soltas se viu indeciso
Ah! Este mundo precisa de acalanto


Redescobrir a esperança é preciso
Encontrar no outro um olhar de encanto
Olhar para si e ver que há um paraíso
Transformando a morada do coração em recanto


De que adianta ter um olhar conciso
Se ser poeta é estar em cada canto
E chorar pelo desnecessário e impreciso


É amar com zelo e ao mesmo tempo tanto
Acreditando na tola humanidade então me paraliso
De nada adianta. Vou-me embora e me levanto...

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Prelúdio

A noite chega de rompante
Os astros e estrelas em seu tímido cintilar
A abóbada celeste enegrecida
Uma estrada à frente e faltam pés para caminhar


O silêncio que nasce da monotonia
Que açoita a inquietude da mente
Como um corpo sem sombra
Que insiste em caminhar indolente


Nesta noite ninguém estava nas ruas
Os bêbados não mais jaziam pelas calçadas
Os amores não estavam mais a namorar no portão
Nesta estrada caminha somente a solidão


No horizonte enevoado da vida mora o sentido
Que nos leva a direção alguma
Como perdidos num forte vento de outono
Flutuamos ao léu como a mais leve pluma


Involuntariamente esticava o braço
A mão procurava ao lado outra para segurar
Mas não havia ninguém...
Nem ao menos para um beijo ou um abraçar


Despido de razão, uma lágrima escorreu pela face
Num gesto tolo, esboçou um sorriso pálido
Percebeu que assim era pra ser
E rendeu-se ao choro que lhe consumia ávido


A noite é somente o prelúdio
A madrugada é o berço
Respirar é a condição
Para o alvorescer de um novo dia.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Transforme-se

Sempre é preciso saber 
quando uma etapa chega ao final.

Se insistirmos em permanecer nela 
mais do que o tempo necessário, 
perdemos a alegria 
e o sentido das outras etapas que precisamos viver. 

Encerrando ciclos, 
fechando portas, 
terminando capítulos, 
não importa o nome que damos.
O que importa é deixar no passado 
os momentos da vida que já se acabaram.

Foi despedido do trabalho? 
Terminou uma relação? 
Deixou a casa dos pais? 
Partiu para viver em outro país? 
A amizade tão longamente cultivada 
desapareceu sem explicações? 
Você pode passar muito tempo 
se perguntando por que isso aconteceu. 
Pode dizer para si mesmo 
que não dará mais um passo 
enquanto não entender as razões 
que levaram certas coisas, 
que eram tão importantes e sólidas em sua vida, 
serem subitamente transformadas em pó. 

Mas tal atitude 
será um desgaste imenso para todos: 
seus pais, seu marido ou sua esposa, 
seus amigos, seus filhos, sua irmã...
Todos estarão encerrando capítulos, 
virando a folha, 
seguindo adiante, 
e todos sofrerão ao ver que você está parado. 

Ninguém pode estar ao mesmo tempo 
no presente e no passado, 
nem mesmo quando tentamos 
entender as coisas que acontecem conosco. 

O que passou não voltará: 
não podemos ser eternamente meninos, 
adolescentes tardios, 
filhos que se sentem culpados 
ou rancorosos com os pais, 
amantes que revivem 
noite e dia 
uma ligação com quem já foi embora 
e não tem a menor intenção de voltar. 

As coisas passam 
e o melhor que fazemos 
é deixar que elas realmente possam ir embora. 

Por isso é tão importante 
(por mais doloroso que seja!) 
destruir recordações, 
mudar de casa, 
dar muitas coisas para orfanatos, 
vender ou doar os livros que tem.

Tudo neste mundo visível 
é uma manifestação do mundo invisível, 
do que está acontecendo em nosso coração 
e o desfazer-se de certas lembranças 
significa também abrir espaço 
para que outras tomem o seu lugar. 
Deixar ir embora. 
Soltar. 
Desprender-se. 
Ninguém está jogando 
nesta vida com cartas marcadas. 
Portanto, às vezes ganhamos e às vezes perdemos. 

Não espere que devolvam algo, 
não espere que reconheçam seu esforço, 
que descubram seu gênio, 
que entendam seu amor. 

Pare de ligar sua televisão emocional 
e assistir sempre ao mesmo programa, 
que mostra como você sofreu com determinada perda: 
isso o estará apenas envenenando 
e nada mais. 

Não há nada mais perigoso 
que rompimentos amorosos que não são aceitos, 
promessas de emprego 
que não têm data marcada para começar, 
decisões que sempre são adiadas 
em nome do "momento ideal". 

Antes de começar um capítulo novo 
é preciso terminar o antigo: 
diga a si mesmo que o que passou, 
jamais voltará. 

Lembre-se de que houve uma época 
em que podia viver sem aquilo, 
sem aquela pessoa... 
Nada é insubstituível, 
um hábito não é uma necessidade. 

Pode parecer óbvio, 
pode mesmo ser difícil, 
mas é muito importante. 

Encerrando ciclos. 
Não por causa do orgulho, 
por incapacidade, ou por soberba.
Mas porque simplesmente 
aquilo já não se encaixa mais na sua vida. 

Feche a porta, 
mude o disco, 
limpe a casa, 
sacuda a poeira. 

Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é.