sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Angústia a 4 Mãos

A madrugada é meu berço
Em suas sombras e horas infinitas
Em cada copo e cada cigarro uma angústia
Em cada lágrima não chorada um pesar

A cada novo dia mais angústias a se acumular
em cada minuto que se passa, sinto as sombras em meu coração enxer,
como um pássaro preso, aonde luz no olhar, não existe mais,
em certos momentos, a morte parece ser a única saída,
o único alívio, para as dores que sente-se no fundo d'alma

Como um bicho preso atrás de grades invisíveis
Atordoantes e inquietantes para o espírito
Buscando saídas no descabido e sem sentido
Esvaindo forças que já não mais existem
Sendo imagem sem reflexo num espelho despedaçado
Tornando-me a imagem de um ser estilhaçado

percebendo que tudo não passa de ilusão
que os sentimentos, só ferem
que a "liberdade", é uma farsa
tentando achar uma forma de se conseguir um sorriso,
mesmo que não seja falso
mesmo que por um instante, acreditando em futilidades,
apenas para poder desfrutar, mesmo que de forma ilusória,
de um momento de felicidade

Porque pessoas como nós carregam um fardo
Ou talvez uma benção
Não somos pessimistas, quiçá negativistas
Somos sinceros no pensamento
E na poesia externamos o sentimento
Não nos entitulem derrotistas
Por mais duro que possamos parecer,
Somos apenas realistas!


Texto escrito com o amigo Deyvid Garreto

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Fragmentos

Mais uma noite que cai no Rio de Janeiro
Junto uma chuva impertinente
No ar há uma melancolia, talvez tristeza
O cheiro do asfalto quente e molhado
A velocidade dos passos aumenta
Faces anônimas misturam chuva e suor
Num ir e vir trôpego e descompassado
A luz reflete nas gotas da janela
Brincando de cores e formas em meio ao caos
As impacientes buzinas ecoam na grande avenida
Tal qual o peão acelerando o passo da boiada
Mais do que pessoas, universos paralelos
Coexistindo na mesma realidade
A água escorre se arrastando pelo meio fio
Levando consigo um pouco de tudo
A sujeira, o suor, as lágrimas...
Como uma veia aberta a sangrar
Esvaindo fragmentos de vidas que não cansam
E insistem em passar.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Ritual

No copo a cerveja já quente
A fumaça do cigarro
em espiral constante,
brincando com as formas
desformes dos eternos amantes.
Num labirinto indecente
que marca, nomeia e avante
Nos leva a um caminho
Onde só nós ditamos as regras.

E que regras ditamos
em declínio constante?
As palavras não ditas
e tua sombra se forma
na penumbra desnuda
sob a luz da lua.

Por fim, teu sexo aflora e revela
e na inevitabilidade da noite
O ritual se celebra.

(Parceria de Romulo Narducci - 25/06/2008)

sábado, 13 de junho de 2009

Silêncio do poeta

Silêncio
Há quem diga ser o mais perfeito som
Tão perfeito que a busca por ele se torna infinda
Horas atordoante e horas acolhedor
O poeta descobre que o silêncio não se limita ao som da vida
E percebe que mesmo que carregue todo o sentimento dentro de si
Não haverão palavras pra expor tudo que sente
Nem sons que traduzam a velocidade de seus pensamentos
Quiçá a velocidade com a qual seu coração bate em tal momento
Sim, há de se respeitar o silêncio
Por mais duro que possa parecer ao poeta
Silêncio não é morte, não é abster-se
Muito menos a inexistência do sentimento que o move
Talvez seja apenas o cansaço de sua pobre e limitada carcaça
Que foi fadada a carregar tamanha sofreguidão
Ah poeta! Tens o dom de amar com todas as suas forças
Ao mesmo tempo que pode praguejar maldições em seu íntimo
Podes ser Deus em seus devaneios
E o mais ínfimo ser que já viveu
Carregas a loucura desenfreada e desvairada
E a lógica, racional e moralizada
Sim poeta, aceite o silêncio
Acalma teu espírito e amansa teus pensamentos
As palavras haverão de surgir
Não há céu enegrecido que um dia o sol não se faça presente
Fazendo novamente a luz surgir
O silêncio há de cessar, e o sentimento voltarás a sentir
E o sentido voltará, os passos encontrarão o compasso
Verás que quando o silêncio soar como o fim
Não se engane com sua indolência
Não deixe que te cegue com sua obscuridade
Tudo é apenas o começo...

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Desabafo

Devido a um período obscuro para a escrita deste que vos fala, decidi postar um texto que diz muito sobre esse momento que passo de não conseguir expor meus sentimentos em versos. Que Vinícius de Moraes se faça entendido por aquele que o ler aqui e entenda um pouco de minha angústia...

MENSAGEM À POESIA - VINÍCIUS DE MORAES

Não posso
Não é possível
Digam-lhe que é totalmente impossível
Agora não pode ser
É impossível
Não posso.
Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não posso ir esta noite ao seu encontro.

Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar
Muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo.
Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte do mundo
E as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo
A saudade de seus homens; contem-lhe que há um vácuo
Nos olhos dos párias, e sua magreza é extrema; contem-lhe
Que a vergonha, a desonra, o suicídio rondam os lares, e é preciso
reconquistar a vida
Façam-lhe ver que é preciso eu estar alerta, voltado para todos os caminhos
Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso.
Ponderem-lhe, com cuidado – não a magoem... – que se não vou
Não é porque não queira: ela sabe; é porque há um herói num cárcere
Há um lavrador que foi agredido, há um poça de sangue numa praça.
Contem-lhe, bem em segredo, que eu devo estar prestes, que meus
Ombros não se devem curvar, que meus olhos não se devem
Deixar intimidar, que eu levo nas costas a desgraça dos homens
E não é o momento de parar agora; digam-lhe, no entanto
Que sofro muito, mas não posso mostrar meu sofrimento
Aos homens perplexos; digam-lhe que me foi dada
A terrível participação, e que possivelmente
Deverei enganar, fingir, falar com palavras alheias
Porque sei que há, longínqua, a claridade de uma aurora.
Se ela não compreender, oh procurem convencê-la
Desse invencível dever que é o meu; mas digam-lhe
Que, no fundo, tudo o que estou dando é dela, e que me
Dói ter de despojá-la assim, neste poema; que por outro lado
Não devo usá-la em seu mistério: a hora é de esclarecimento
Nem debruçar-me sobre mim quando a meu lado
Há fome e mentira; e um pranto de criança sozinha numa estrada
Junto a um cadáver de mãe: digam-lhe que há
Um náufrago no meio do oceano, um tirano no poder, um homem
Arrependido; digam-lhe que há uma casa vazia
Com um relógio batendo horas; digam-lhe que há um grande
Aumento de abismos na terra, há súplicas, há vociferações
Há fantasmas que me visitam de noite
E que me cumpre receber, contem a ela da minha certeza
No amanhã
Que sinto um sorriso no rosto invisível da noite
Vivo em tensão ante a expectativa do milagre; por isso
Peçam-lhe que tenha paciência, que não me chame agora
Com a sua voz de sombra; que não me faça sentir covarde
De ter de abandoná-la neste instante, em sua imensurável
Solidão, peçam-lhe, oh peçam-lhe que se cale
Por um momento, que não me chame
Porque não posso ir
Não posso ir
Não posso.
Mas não a traí. Em meu coração
Vive a sua imagem pertencida, e nada direi que possa
Envergonhá-la. A minha ausência.
É também um sortilégio
Do seu amor por mim. Vivo do desejo de revê-la
Num mundo em paz. Minha paixão de homem
Resta comigo; minha solidão resta comigo; minha
Loucura resta comigo. Talvez eu deva
Morrer sem vê-Ia mais, sem sentir mais
O gosto de suas lágrimas, olhá-la correr
Livre e nua nas praias e nos céus
E nas ruas da minha insônia. Digam-lhe que é esse
O meu martírio; que às vezes
Pesa-me sobre a cabeça o tampo da eternidade e as poderosas
Forças da tragédia abastecem-se sobre mim, e me impelem para a treva
Mas que eu devo resistir, que é preciso...Mas que a amo com toda a pureza da minha passada adolescência
Com toda a violência das antigas horas de contemplação extática
Num amor cheio de renúncia. Oh, peçam a ela
Que me perdoe, ao seu triste e inconstante amigo
A quem foi dado se perder de amor pelo seu semelhante
A quem foi dado se perder de amor por uma pequena casa
Por um jardim de frente, por uma menininha de vermelho
A quem foi dado se perder de amor pelo direito
De todos terem um pequena casa, um jardim de frente
E uma menininha de vermelho; e se perdendo
Ser-lhe doce perder-se...Por isso convençam a ela, expliquem-lhe que é terrível
Peçam-lhe de joelhos que não me esqueça, que me ame
Que me espere, porque sou seu, apenas seu; mas que agora
É mais forte do que eu, não posso ir
Não é possível
Me é totalmente impossível
Não pode ser não
É impossível
Não posso.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Humanidade

Na velocidade dos dias
No passo apressado
Do espírito amargurado
Resta ainda um ser descarnado

Separado de si
Onde uma alma jaz num corpo
Desfalecido, mortificado
Olhos abertos, porém vendados

Realidades se cruzando
Respiração fria e descompassada
Seguindo o mesmo Deus
Numa estrada sem saída

Todos se queimando
Tal negra é a chama
Da fumaça dos escapamentos
Abafando cada alma, sem escapatória

E buzinava cada canto
E gritava cada cria
E mesmo sem saber, já fadada ao Haver
O barulho era o mesmo

O projétil invade a muralha
Das proteções contra nós mesmos
O sangue espirra diante da família
Com a dor trazendo cor a hipocrisia

A dor ganha movimento no jornal matinal
Todos sentados à mesa comentando o fato
Não percebendo o principal
A verdade velada e os gritos silenciosos

Eram eles que estavam mortos
Há muito tempo, mesmo sem saber
Que os prisioneiros são eles
No cárcere da ignorante humanidade

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*Parceria de Thomas Tjabbes na autoria deste texto*