domingo, 29 de maio de 2011

Inexplicável Querer

A madrugada traz consigo a insônia
Alimentada por uma vontade que transcende
É inexplicável, intangível e imensurável
Junto a chuva impertinente e sedutora
Atirando-se contra a janela em profusão
As luzes das ruas brincam de fazer formas
Travestindo-se em imagens que ludibriam o olhar
Um caleidoscópio de desejo que cai do céu
Girando na alma num universo sem forma
Que impulsionam o querer você
Em todo o caos da madrugada
Nas gotas da chuva libidinosa
Em cada luz que se refrata na retina
No bailar suntuoso onde o céu é testemunha
As lembranças dos corpos que giram
Dois amantes numa sinfonia regida ao luar
E o silêncio soturno ganha sentido
Se torna música onde somente nós podemos escutar
Como numa fração de segundo, tudo cessa
As respirações descompassam e as almas se inquietam
O universo teve de aplaudir a dança do poeta e sua musa
Dois seres tão singelos trouxeram inveja à Criação
Perceberam que o poeta transbordava em querer
Num sentimento nobre mas sem explicação
Entre ele e o universo só havia ela e nada mais
E nem mesmo a própria morte o faria desistir
A música não há de parar até que o inevitável aconteça
Que mesmo sendo profano iria até os confins por ela
Até o dia que de fato seu querer há de se consumar.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Oração ao Tempo

Até onde irá o poeta e seu torpor
Chorar às sombras na solidão dos dias
Procurar sentido nos caminhos da alma
Afogar a saudade que lhe consome o ser
Ter o poder de parar o tempo e retroceder
E em apenas um dia, numa escolha tudo mudar
Refazer o curso de sua história
E ver que sempre é tempo de aprender
Que se soubesse o quanto é duro errar
Jamais escolheria o caminho que hoje é seu viver
Ah, Tempo! Senhor das Existências!
Tende piedade da fraqueza dos que vivem!
Estes tolamente não sabem o peso de uma lágrima
Ainda mais quando cai da face de quem se ama
É inundar o próprio coração de tristeza sem se ver
Ah, Tempo! Senhor das Respostas!
Tende piedade daqueles que perderam seu amor!
Ninguém deveria em sã consciência passar por tanta dor
Muito menos cegamente escolher tamanho horror
Ah, Tempo, Tempo...
Porque fazes isso? 
Esperar seria a dádiva dos desesperados?
A lição dos pobres errantes?
Segure minha mão e puxe-me em direção ao firmamento
Ah, Tempo! Senhor da minha saudade!
Leva ela embora, pois viver assim é maldade
Aqui dentro desse peito mora um coração
E hoje o poeta lhe roga em clamor e oração:
"Você nunca amou, Tempo...
Leva ela embora pois a amo demais!
E a perdi para mim, para sempre e pra você...
Se não a me trouxer de volta, entregue a quem mereça
Mas o faça de uma vez, pois viver assim...
Ah, Tempo! Não há quem mereça!"

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Soneto à Musa Italiana

Sonhando com os montes da Toscana
Eis que a musa surge em meu caminho
Invade meu ser de forma insana
Sensual a deleito como o rubro vinho


Destila seu veneno em minha memória
A querer se torna parte do meu viver
Desejos extremos de forma peremptória
Jogaste minh'alma na treva de meu ser


Quero-a deveras, tanto e amiúde
E não há palavras que expressem tal querer
Hei de esperá-la em seu teor e plenitude


Num tempo em que tudo parece perecer
E todo o sentimento entregue a solitude
Trouxeste ao poeta um sentido para viver

terça-feira, 3 de maio de 2011

Ser em Prosa e Verso

Todo ser é um pouco prosa
É muito verso num mundo controverso
Poesia rimada e métrica
Que nem sempre seguem a regra da poética
Lirismo entoado num espírito épico
Odisséias num fragmento de espaço
Histórias não contadas num segundo
Música cantada numa pausa de mil compassos
Livro aberto com páginas em branco
Esperando alguém que queira contar sua história
Viver e escrever em suas memórias
É eterna dança sem fim
Marcada por passos que nem sempre seguem o som
Pois embalados podem flutuar no silêncio
Tirar os pés do chão sem sair do lugar
Num querer viver inevitável
Apesar do futuro certo ser sempre morrer
Todos tem um pouco de Deuses
E mal sabem que irão durar por toda a eternidade
Que em cada gesto podem refletir sua divindade
Em cada decepção as lágrimas amargas
E no dia seguinte a dura lição
Que levantar é necessário após ir de encontro ao chão
Todo ser é um pouco sim e muito não
Verdades injustas e mentiras sinceras
E uma tola e insistente capacidade de amar...