sábado, 23 de outubro de 2010

Conversando com Deus

Noite a dentro
E aquele conflito, guardado durante o longo dia, transbordou novamente.
Ando, sento, levanto
Nada que eu faça parece amenizar
E acabo diante do espelho, onde tudo começou
E eu que nem sabia, que aquela conversa terminaria, exatamente no lugar onde se iniciou.
O reflexo era turvo
Mas o que estava ali que eu ainda não enxergava?
Após mais uma noite insone a inquietude pairava
Atirava-se no espírito em constante açoite
As velhas perguntas, que instigavam, estimulavam e intrigavam meu ser.
Sempre que me sentia assim, ELE estava ali.
E mesmo nas manhãs, quando o orvalho acariciava minha face, tocando as marcas já permanentes do meu semblante de outrora. ELE estava ali.
Nas lágrimas que sempre haveriam de escorrer, por felicidade ou por sofrer, ELE estava ali!

Nos momentos de júbilo ou onde por certo havia de padecer
Por mais que tudo lhe fizesse crer contra. ELE estava ali!
E por mais que eu evitasse, e mesmo sem saber ao certo o que era, eu o sentia.
Nas perdas inevitáveis ou nas conquistas memoraveis, quando me sentia esquecido e de alma estraçalhada, corpo estremecido e mente entorpecida, lá estava ELE.

Momentos de minha vida se destacavam em fragmentos quase imperceptiveis de um misto de emoções.
É absurdamente surreal, cada momento de minha vida passava diante de meus olhos, refletindo no espelho as minhas verdades.
Revelando-me as minhas assustadoras mentiras, contra mim e contra outros.
E na luta contra ceder, continuar, me permitir, me limitar, repudiar, acreditar;
Tudo estava ali, sempre ali, eu fugia, mas voltava.
Como era pra ser e havia de ser
Mas o entendimento não surgia, as dúvidas retornavam
Oras de pronto, oras tardias
E em um momento, entrelaçando razão e emoção, coerência e absurdo, fatos e mitos, enfim soltei o que estava preso no fundo de minha alma:

 - Por quê mesmo sem vê-lo, você insiste em me acompanhar? Onde está? Como ter certeza de que tudo é verdade?

Eu precisava saber, queria saber, se podia acreditar no que sentia.
E tal qual existe paz no olho de um furacão, meu ser foi invadido por um silêncio como em um rompante.
Instintivamente fechei meus olhos.

E como se uma mão, envolta de certezas, correndo por minha alma, e tocando em meus sentidos, uma voz ecoou, de forma firme, porém graciosa:

 - " A resposta está no espelho..."

domingo, 10 de outubro de 2010

Transição

Seguimos sóbrios de racionalidade
Porém, ébrios de humanidade
Nas lacunas do tempo e nos intervalos da memória
Há um oceano de realizações
De sentimentos e emoções
Somos a existência que permeia o vir e o ir
Vir ao mundo, ir deste mundo...
Mundo? Mera ilusão!
Esta vida, outra vida? Quiçá!
Deus? Divindade? Só Deus sabe!
As respostas não estão
As respostas não são
Não há respostas!
Simplesmente há o haver
Existimos, fato!
Nascemos esboçando nosso próprio choro
E morremos levando consigo o choro
Chorar é a catarse do corpo
A súplica do estado de inação da alma
Do regozijo da felicidade
Da perda irreparável
Da conquista memorável
Porém, tudo continua
Indo e vindo
Tudo? Impossível!
Mas a vida perdura
Indolente e sincera
Nos coloca em nossa posição
Onde e sempre, inegavelmente
Somos somente
Transição e queda.

domingo, 27 de junho de 2010

Controle

Você não dorme a noite
O suor insiste em correr
A inquietude toma conta do seu ser
Quem está no controle?

Você acorda apressado
Mal come tal o passo acelerado
Toma a condução sem saber quem te conduz
Quem está no controle?

O dia passa acelerado
Executando tarefas sem pestanejar
Pra alguém que sequer podemos olhar
Quem está no controle?

O corpo dói
A mente cansa
Que tal um "happy hour" ou uma TV?
Quem está no controle?

Em casa, o diálogo é mera reprodução
Do que se passa na tela
Ou do cotidiano sem comoção
Quem está no controle?

Chega a hora de deitar
Colocamos a cabeça no travesseiro
Muitas vezes sequer nos damos ao trabalho de pensar
Quem está no controle?

O sono não chega
As perguntas brotam
Basta começar a pensar
Quem está no controle?

Quando foi a última vez que fui feliz?
Quando foi a última vez que de fato sorri?
Por Deus, não consigo lembrar!
Quem está no controle?

Eu sou?
Eu reproduzo?
O que sou?
Quem está no controle?

Onde comecei?
Onde terminei?
Aonde realmente quero chegar?
Quem está no controle?

Meus dias são contados
Não tenho mais aspirações
Vivemos de ilusões de fatos?
Quem está no controle?

Eu posso escolher?
Minhas escolhas sou eu quem faço?
Me tornei uma máquina?
Quem está no controle?

O sono não veio
O dia insiste em amanhecer
Acabou o tempo pra pensar
Quem está no controle?

Preciso levantar
Correr contra o tempo
Bater a meta e voltar a tempo pra pensar
Quem está no controle?

Me perdi
O cansaço não me deixa pensar
Minha individualidade tenta se encaixar
Quem está no controle?

E você
Já parou pra pensar?
você tem feitos suas escolhas?
Nunca pare de se perguntar

QUEM ESTÁ NO CONTROLE?

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

2010

Fugindo um pouco do formato textual que mantenho no blog, vou escrever aleatóriamente neste post, iniciando o ano de 2010 no velho e empoeirado "Pensamentos & Etc..."

Fazendo uma breve restrospectiva do meu ano de 2009, a medida que encontro talvez não seja das mais positivas. Se for ainda mais criterioso, pouquíssimo positiva mesmo. Um ano que foi marcado por mais perdas que ganhos.

Durante boa parte do passado ano, mastiguei, relutante, algumas desventuras e decepções sem conseguir engolí-las. Cada dia que se passava mais parecia um fardo, um suplício, que não obstante, vinha acompanhado de uma prece para que chegasse logo ao fim.

Cada dia se tornava uma infinda estrada onde me deparava com dúvidas, incertezas, ódio, raiva, decepção e uma gama de sentimentos enlouquecedores. Solidão era cada vez mais certa, mesmo se estivesse no meio de uma multidão ou cercado por aqueles tem apreço e amor por mim.

As palavras ditas não faziam sentido e a vontade de seguir em frente era cada vez mais fraca, como um rio que tem sua nascente obstruída, tornando-o um mero filete sem força e vida.

Não sabia ao certo se estava perdendo a fé no Divino, ou pior ainda, em mim mesmo.

Imerso em reflexões, buscando algo que fizesse sentido, me deparei com uma frase de Nietzsche muito interessante, que parecia vir a calhar na atual circunstância:

"A grandeza do homem consiste em que ele é uma ponte e não um fim; o que nos pode agradar no homem é ele ser transição e queda."

Parece óbvio quando lemos, e de fato o é. Porém, nos situarmos enquanto indivíduos em eterna transição e queda é um dos grandes desafios da vida, creio eu.

Somente quando nos situamos nessa circunstância é que de fato aprendemos o caminho para lidar com as transições e levantar-nos das inevitáveis quedas reservadas em nossas vidas.

Tendemos a encarar a vida seguindo um estilo "ver pra crer", quando na verdade deveria ser o contrário: "Crer para ver". E não é um crer somente em Deus ou em qualquer divindade que alguém possa acreditar. Trata-se da crença em si próprio e de enxergar-se enquanto potência de mudança e transformação.

A dialética com o mundo é rica, intensa, nos trazendo infinitas experiências, gerando expectativas... Enfim, um infinito de possibilidades, tanto para bem e bom, quanto para mal e mau.

Após essas conclusões, não enxergo 2010 simplesmente como mais um ano que passa, mas sim como mais uma chance e oportunidade de mudança. Pode soar piegas, clichê, demodê, mas talvez seja exatamente isso que falta nas pessoas.

Nós esquecemos como é ser ser humano. E pior, esquecemos que o maior inimigo que podemos ter em nossas vidas somos nós mesmos...

Como por muitas vezes grandes lições estão no mais descabido ou inesperado, deixo para vocês lerem através do link abaixo um pequeno trecho (porém fantástico) do livro Pequeno Príncipe, de Saint Exupéry.


Todos os dias tentarei lembrar disso e espero que possam se lembrar também. Fiquem com Deus e que 2010 traga à cada um de vocês um novo universo de sentidos!

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas!"