terça-feira, 18 de setembro de 2012

Kings of Convenience


Como bom viciado em música, conheci uma banda – na verdade um duo - há pouquíssimo tempo e suas letras e melodias tem me chamado muita atenção. O duo se chama Kings Of Convenience. O som tem uma base bem indie, pop e folk. Soa muito como Simon & Garfunkel mais modernos. Vale a pena conhecer.

Mas enfim, uma música deles em especial é o mote para o que pretendo escrever hoje. A música se chama “The Weight of My Words”. No fim do texto tem a música. Clica lá!

Após um período diria eu, conturbado, precisava urgentemente voltar meus olhos para mim, minhas atitudes e treinar a velha autocrítica. Cheguei numa conclusão simples: eu estava me sufocando. E, por conseguinte, acabei sufocando e afastando coisas e pessoas que eu não queria. Acabei sendo egoísta e esperei muito mais pelos conceitos (da minha nobre mente insana) das coisas e das pessoas ao invés de simplesmente enxergar o que e quem elas são.

Digo não só egoísta, mas também contraditório. Agi contra aquilo que tento fazer diferente, que é não demandar e esperar do outro e acabar esquecendo de olhar para mim e o meu papel com o outro. Acabei por dar ouvidos a insensatez, a afobação das minhas próprias demandas emocionais, sentimentais, psicológicas e etc, etc, etc... Não soube equilibrar. Talvez seja isso.

Pra contextualizar o que a música “me disse”, vou fazendo uns breves recortes já traduzidos. Na verdade são trechos dela que me serviram. Recortes muito bons...

Logo de cara o título já coloca pra pensar: O Peso das Minhas Palavras. Nem preciso explanar muito sobre o peso e valor delas, né? Já diria Clarice Lispector que “A palavra é o meu domínio sobre o mundo”.

Nas primeiras estrofes a música me traduziu.  Ela diz que "há muitas coisas que eu gostaria de lhe dizer mas que perdi meu jeito. Perdi as palavras." E segue com “há muito lugares que eu gostaria de ir. Mas eu não consigo achar a chave para abrir minha porta.”

Acho que em algum momento eu perdi as palavras, o jeito, a sensatez e, como fim, me perdi . Isso acaba sendo positivo por que me colocou hoje na postura de quem escreve tudo isso em busca de humildade pra reconhecer-se falho. De quem necessariamente não suporta além de ser falho com o outro, ser consigo próprio. Às vezes nos boicotamos sem nem perceber.

É um processo natural e até mesmo banal, dependendo do ponto de vista. Porém, pensemos em quantas banalidades jogamos para “debaixo do tapete”. Uma hora vai faltar tapete ou vai sobrar tanta banalidade que teremos sérios problemas.

No fim desse texto a única coisa que lembro é de que sinto saudade. Saudade não só de quem passou, mas também de mim. De quem fui e até mesmo do que serei. De um tempo em que de um jeito ou de outro sorrir era mais simples, inexplicavelmente. Um tempo de sorrisos com os olhos. Sorrisos que vem da alma.  Saudosismo louco, não?!
Valeu, Kings!

“Sem música a vida seria um erro” (Nietzsche)


domingo, 9 de setembro de 2012

Essa tal felicidade...


Aquele dia em que paramos para fazer um apanhado histórico e crítico de nós mesmos. Vai acabar sendo um devaneio louco, mas voemos alto...

Me pego olhando uma caixa antiga com cartas de outrora, livros antigos e recentes. Uns comprados, roubados, ganhados... Fotografias do passado, presente e até mesmo do futuro (sim, eu realizo e visualizo aquilo que eu quero). Alguns bons sentimentos, sorrisos, lágrimas,  promessas cumpridas, outras não... Perguntas sem resposta e uma inquietação constante.


Relembrando momentos que parecem pequenos diante da grandeza do tempo e que fazem total sentido nas escolhas que fazemos hoje. Aprendi que somos seres históricos e como tal, não podemos abdicar daquilo que passou em detrimento do que virá. É a velha história de que no fim das contas não há o conceito de Ser. Há somente o Haver. Existimos. Ponto!


Certas coisas que em outros tempos eu poderia jurar que jamais faria hoje são extremamente necessárias ao meu cotidiano. Isso é estranho? Não. É somente transição, transformação, evolução. Depois de todo esse blá-blá-blá demodé, acabo me atirando contra a tal felicidade e as famigeradas relações humanas.


Essa ditadura da felicidade que consome o mundo (e a mim também) cega, adoecendo nosso corpo e nossa alma. Esse descaso que damos a forma como nos relacionamos com o outro e com nós mesmos é insana. A falta de valor àquilo que falamos sem saber o quanto de poder a palavra tem e como isso influencia o outro... 


“A depressão é a doença de uma sociedade que decidiu ser feliz a todo preço. Não se tolera mais a fragilidade. Tudo é visto sob o ângulo da patologia. Aí temos de medicar a existência. É desumano.” 
(Pascal Bruckner)

Poderia falar de como as pessoas estão sempre vivendo à sombra de algo. Do trabalho, de Deus, da falta ou excesso de dinheiro, das desculpas esfarrapadas de que seu tempo não lhe permite agregar tudo aquilo que se quer. No fim das contas elas estão vivendo à sombra delas mesmas e da falta de amor próprio e sensibilidade de se enxergar enquanto indivíduo que possui demandas psicológicas e emocionais. As pessoas precisam se levar mais a sério!

Aproveitando o conceito do sociólogo Zygmunt Bauman, vivemos em tempos onde a modernidade e o amor são líquidos (não conhece? Dá um Google e pesquise que vale a pena conhecer a idéia e o conceito). Cada vez mais as relações são doentias, volúveis e efêmeras. Essa insegurança e medo de se relacionar mostra que os indivíduos estão sendo ensinados a não se apegar a nada para não se sentirem sozinhos. A nossa sociedade “moderna” não pensa mais na qualidade, mas sim na quantidade. Quanto mais relacionamentos eu tiver, melhor, quanto mais dinheiro tiver, melhor. O consumismo é muito grande e as pessoas compram não por desejo ou necessidade, mas por impulso e isso ocorre também nas relações humanas. 


Pra quê se esforçar em entender e conviver com o outro quando a idéia moderna da “insatisfação constante” rege essa sinfonia? Basta trocar! Evita desgaste, lágrimas, comprometimento e a exposição de quem somos e como nos sentimos realmente.


Ainda citando Bruckner, que responde o que seria a felicidade real, não idealizada:


Um sentimento sem objeto preestabelecido, algo que muda de acordo com a pessoa, com a época e com a idade. Nós a encontramos em alguns momentos, mas ela é fugidia por natureza, não vem quando a chamamos e às vezes chega quando menos esperamos. Há dois erros básicos na forma como a encaramos atualmente. Um é não reconhecê-la quando acontece ou considerá-la muito banal ou medíocre para acolhê-la. O segundo erro é o desejo de retê-la, como a uma propriedade. Jacques Prévert tem uma frase linda sobre isso: 'Reconheço a felicidade pelo barulho que ela faz ao partir'. A ilusão contemporânea é a da dominação da felicidade. Um triste erro.

Nós só nascemos de fato quando lançamos um olhar inteligente sob nós mesmos. Rever sempre os conceitos e não querer obtê-los. Não adianta guardar pra si a intangível transformação. Sejamos a transformação e livremo-nos da soberba ignorância que nos afasta do amor próprio.

Voemos alto meus caros. Alto o suficiente para não mais vivermos à sombra e margem de nós mesmos...