domingo, 9 de setembro de 2012

Essa tal felicidade...


Aquele dia em que paramos para fazer um apanhado histórico e crítico de nós mesmos. Vai acabar sendo um devaneio louco, mas voemos alto...

Me pego olhando uma caixa antiga com cartas de outrora, livros antigos e recentes. Uns comprados, roubados, ganhados... Fotografias do passado, presente e até mesmo do futuro (sim, eu realizo e visualizo aquilo que eu quero). Alguns bons sentimentos, sorrisos, lágrimas,  promessas cumpridas, outras não... Perguntas sem resposta e uma inquietação constante.


Relembrando momentos que parecem pequenos diante da grandeza do tempo e que fazem total sentido nas escolhas que fazemos hoje. Aprendi que somos seres históricos e como tal, não podemos abdicar daquilo que passou em detrimento do que virá. É a velha história de que no fim das contas não há o conceito de Ser. Há somente o Haver. Existimos. Ponto!


Certas coisas que em outros tempos eu poderia jurar que jamais faria hoje são extremamente necessárias ao meu cotidiano. Isso é estranho? Não. É somente transição, transformação, evolução. Depois de todo esse blá-blá-blá demodé, acabo me atirando contra a tal felicidade e as famigeradas relações humanas.


Essa ditadura da felicidade que consome o mundo (e a mim também) cega, adoecendo nosso corpo e nossa alma. Esse descaso que damos a forma como nos relacionamos com o outro e com nós mesmos é insana. A falta de valor àquilo que falamos sem saber o quanto de poder a palavra tem e como isso influencia o outro... 


“A depressão é a doença de uma sociedade que decidiu ser feliz a todo preço. Não se tolera mais a fragilidade. Tudo é visto sob o ângulo da patologia. Aí temos de medicar a existência. É desumano.” 
(Pascal Bruckner)

Poderia falar de como as pessoas estão sempre vivendo à sombra de algo. Do trabalho, de Deus, da falta ou excesso de dinheiro, das desculpas esfarrapadas de que seu tempo não lhe permite agregar tudo aquilo que se quer. No fim das contas elas estão vivendo à sombra delas mesmas e da falta de amor próprio e sensibilidade de se enxergar enquanto indivíduo que possui demandas psicológicas e emocionais. As pessoas precisam se levar mais a sério!

Aproveitando o conceito do sociólogo Zygmunt Bauman, vivemos em tempos onde a modernidade e o amor são líquidos (não conhece? Dá um Google e pesquise que vale a pena conhecer a idéia e o conceito). Cada vez mais as relações são doentias, volúveis e efêmeras. Essa insegurança e medo de se relacionar mostra que os indivíduos estão sendo ensinados a não se apegar a nada para não se sentirem sozinhos. A nossa sociedade “moderna” não pensa mais na qualidade, mas sim na quantidade. Quanto mais relacionamentos eu tiver, melhor, quanto mais dinheiro tiver, melhor. O consumismo é muito grande e as pessoas compram não por desejo ou necessidade, mas por impulso e isso ocorre também nas relações humanas. 


Pra quê se esforçar em entender e conviver com o outro quando a idéia moderna da “insatisfação constante” rege essa sinfonia? Basta trocar! Evita desgaste, lágrimas, comprometimento e a exposição de quem somos e como nos sentimos realmente.


Ainda citando Bruckner, que responde o que seria a felicidade real, não idealizada:


Um sentimento sem objeto preestabelecido, algo que muda de acordo com a pessoa, com a época e com a idade. Nós a encontramos em alguns momentos, mas ela é fugidia por natureza, não vem quando a chamamos e às vezes chega quando menos esperamos. Há dois erros básicos na forma como a encaramos atualmente. Um é não reconhecê-la quando acontece ou considerá-la muito banal ou medíocre para acolhê-la. O segundo erro é o desejo de retê-la, como a uma propriedade. Jacques Prévert tem uma frase linda sobre isso: 'Reconheço a felicidade pelo barulho que ela faz ao partir'. A ilusão contemporânea é a da dominação da felicidade. Um triste erro.

Nós só nascemos de fato quando lançamos um olhar inteligente sob nós mesmos. Rever sempre os conceitos e não querer obtê-los. Não adianta guardar pra si a intangível transformação. Sejamos a transformação e livremo-nos da soberba ignorância que nos afasta do amor próprio.

Voemos alto meus caros. Alto o suficiente para não mais vivermos à sombra e margem de nós mesmos...


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