terça-feira, 1 de março de 2011

Recônditos da Psique

Se hoje olho pro meu presente, tenho algumas certezas acerca de meu futuro...

A vida é longuíssima para se errar, mas assombrosamente curta para se viver. A consciência da brevidade da vida perturba a vaidade dos meus neurônios e me faz ver que sou um caminhante que cintila nas curvas da existência e se dissipa aos primeiros raios do tempo. 
Nesse breve intervalo entre cintilar e dissipar, ando à procura de quem sou. Procurei-me em muitos lugares, mas me achei num lugar anônimo, no único lugar onde as vaias e os aplausos são a mesma coisa, o único lugar onde ninguém pode entrar sem permitirmos, nem nós mesmos.
Acerca do futuro, que eu nunca precise proferir tais palavras:

"Ah! Se eu pudesse retornar no tempo! Conquistaria menos poder e teria mais poder de conquistar. Beberia algumas doses de irresponsabilidade, me colocaria menos como aparelho de resolver problemas e me permitiria relaxar, pensar no abstrato, refletir sobre os mistérios que me cercam."
"Se eu pudesse retornar no tempo, procuraria meus amigos da juventude. Onde estão? Quem está vivo? Eu os procuraria e reviveria as experiências singelas colhidas no jardim da simplicidade, onde não havia ervas daninhas do status nem a sedução do poder financeiro."
"Se eu pudesse retornar, daria mais telefonemas para a mulher da minha vida nos intervalos das reuniões. Procuraria ser um profissional mais estúpido e um amante mais intenso. Seria mais bem-humorado e menos pragmático, menos lógico e mais romântico. Escreveria poesias tolas de amor. Diria mais vezes 'Eu te Amo!'. Reconheceria sem medo: 'Perdoe-me por trocá-la pelas reuniões de trabalho! Não desista de mim'.
"Ah, se eu pudesse retornar nas asas do tempo! Beijaria mais meus filhos, brincaria muito mais, curtiria sua infância como a terra seca absorve a água. Sairia na chuva com eles, andaria descalço na terra, subiria em árvores. Teria menos medo que se ferissem e gripassem, e mais medo de que se contaminassem com o sistema social. Seria mais livre no presente e menos escravo do futuro. Trabalharia menos para lhes dar o mundo e me esforçaria muito mais para lhes dar o meu mundo."

O passado é meu algoz, não me permite o retorno, mas o presente levanta generosamente meu semblante decaído e me faz enxergar que não posso mudar o que fui, mas posso construir o que serei. Podem me chamar de louco, psicótico, maluco, não importa. O que importa é que, como todo mortal, um dia terminarei o show da existência no pequeno palco de um túmulo, diante de uma platéia em lágrimas.
Nesse dia, não quero que digam: "Eis que nesse túmulo repousa um homem rico, famoso e poderoso, cujos feitos estão nos anais da história". E nem que digam: "Eis que jaz nele um homem ético e justo". Pois isso é mera obrigação. Mas espero que digam: "Eis que nesse túmulo repousa um simples caminhante que entendeu um pouco do que é ser um ser humano, que aprendeu um pouco a ser apaixonado pela humanidade e conseguiu um pouco vender sonhos para outros passantes...".

Fica a pergunta para todos nós refletirmos: "Como se achar sem nunca se perder?"

Um comentário:

Karen G. disse...

Mirar a prórpia alma,e não enlouquecer,só pode ser impossível.Não seria dada a dádiva de se encontrar sem o sacrifício de perder a razão.E tu sabes que agora penso:''Será que isso é mesmo um sacrifício?''Não será a libertação para sair correndo na chuva,sendo olhado com desprezo pelos tolos que não ouvem a música,pois estão presos em seus carros e almas,mas você,você está sorrindo,livre?