segunda-feira, 7 de março de 2011

Carnaval + Lapa = Laboratório Social (Ou Degradação)

Ainda relutante em sair nesse carnaval, resolvi "ver para crer..."
Mal sabia eu que no final das contas eu teria que lembrar que a verdade é "crer para ver".
Apesar de acompanhado por bons amigos, ainda sim a maior companhia era a solidão.
Mas esta vem se tornando uma enorme parceira na caminhada e até mesmo uma ótima amiga.
Ao chegar, a chuva já era fato no reduto da boemia carioca, o que não arrefeceu a loucura que ali se fazia.
Depois de algumas horas sem realmente conseguir beber mais nada alcoólico, vi que a lucidez no carnaval é objeto raro e de enorme escassez. O olhar sofre tantos atravessamentos que disparam contra nossa consciência, que a única pergunta que ecoava em minha mente era: "O que estou fazendo aqui?"
O uso indiscriminado de drogas era algo que passava até incólume diante do espetáculo carnavalesco.
Sexo sendo feito por travestis nos banheiros químicos transbordando das merdas de humanos que foram ali fazer suas merdas era algo que nem chocava, afinal de contas, isso é normal.
Bêbados? Nem os vi por lá, imagina...
A única coisa que talvez somente eu tenha notado foi o momento em que, após os banheiros químicos já lotados de merda ou de "gente" fazendo merda, precisei recorrer a modalidade que hoje é criminosa: Mijar (ou urinar para os que se chocam com palavras de cunho informal...) ao ar livre!
Aí foi o começo e o fim do meu carnaval. O local obviamente já estava encharcado pela chuva, que se misturava ao mijo dos milhares de transeuntes enlouquecidos que por ali passavam para "se aliviar".
A chuva neste momento caía razoavelmente forte e conversávamos com um vendedor de cervejas muito simples, porém de extrema simpatia. No caminho de volta do banheiro público, me dei conta que ao passar por debaixo dos Arcos da Lapa tendo que desviar dos bêbados loucos e saltar as poças de chuva e mijo, havia uma família ali.
Mas "ali" era no chão, deitados e miraculosamente dormindo. Cinco pessoas, dentre estas três crianças. Todos no mesmo chão, compartilhando de um único cobertor. Ao redor, sujeira, lixo, chuva, frio e o mijo que há pouco havia sido feito por mim e tantos outros escorria na direção desta mesma família!
Esta família pertencia ao mesmo simpático vendedor de cervejas que ali estava conversando conosco...
Imaginei-me em seu lugar, vendo o mijo de milhares escorrer em minha família... E ainda sim ter que sorrir e fazer piada para vender as bebidas que os faziam mijar em cima da minha família.
Por Deus, a degradação humana chegou a níveis inimagináveis e todos ali estavam tão extasiados e anestesiados pelo "maior espetáculo da terra" que nem se davam conta do quão cruéis nos tornamos...
Com o dia quase por raiar, havia um homem deficiente, que presumi viver na ruas, dormindo literalmente no asfalto por onde passavam os carros. Num determinado momento, outro solícito morador de rua que mostrava mais lucidez o tirou de onde estava e o colocou na calçada. A calçada estava podre, fétida, e indo um pouco mais longe, era o espelho de todos que por ali passavam. E ali o homem ficou estirado, desprovido de todo o seu direito à humanidade. E os "foliões" que passavam tiravam sarro, riam e se fazia diante da cena... Tive nojo deles, tive nojo da humanidade... Tive nojo de mim...

E aí, vamos pular carnaval? Vamos pro Bloco? Vamos ser mais um na multidão? Vamos mijar na família alheia e rir da desgraça humana que jaz sobre o lixo que nós mesmos somos e criamos? Sejam bem vindo ao carnaval carioca, o maior show da terra!

Um comentário:

Karen G. disse...

Vou engolir minha indiferença?Vou debochar,vou rir,vou chorar?Vou esquecer?Vou fazer o que,meu Deus?