domingo, 27 de março de 2011

Idas e Vindas

Idas e vindas
O passado e seus fantasmas
O presente e suas decepções
As pessoas e a superficialidade

A noite insone e eterna
A luz que oras assombra e oras acolhe
A loucura da humanidade
O olhar no espelho reconhecendo a insanidade

O autoconhecimento atordoante
A velocidade dos dias que nos consome
A falta dos sorrisos sinceros
Do amor de outrora

A lembrança de tempos que não voltam
O almejar de um futuro obscuro
Passos a caminhar numa estrada de percalços
Num destino que instiga e amedronta

Caminhar pelas sinuosas curvas da mente
Dissipar-se nos abismos da alma
Mergulhar na escuridão da loucura
E renascer no amanhã que jaz numa nova aurora

Na ausência eterna que assola o peito
Acelerando o coração
Que em velocidade clama somente por algo simples
Um sentimento raro em tempos de cólera

Na busca pela luz
Pelo confortar dos que choram
Que carregam em si a dor e o torpor em silêncio
Dos que tentam balbuciar o inexprimível

Idas e vindas
E onde encontrá-la?
Perdida num mundo com veias abertas a sangrar
Resta somente o desejo de um pouco mais de esperança para nos cicatrizar.

domingo, 20 de março de 2011

Samba da Saudade

No pobre peito sofre uma dor sem tamanho
A cruel saudade que invade de rompante a cada dia
E ao som de um samba se esboça um sorriso
Um riso de nostalgia assim brota
Dos tempos de outrora
Da felicidade que ficou pra trás
E descubro que samba é que nem saudade
É chorar de alegria e se encantar
Ver que ambos nascem de um lugar sem endereço
Que só os que amam sabem cantar
Quem conhece a paixão sabe falar
Esse lugar fica dentro do peito dos amantes
Ah, o pobre coração...

domingo, 13 de março de 2011

O perdão

A cama regurgita meu corpo cansado
Minha mente grita e me rouba o sono
A saudade aperta o peito incansávelmente
Fazendo a consciência extrapolar seus limites humanos
Me joga na arena dos leões que são os fantasmas de minh'alma
E preciso domá-los, preciso não ter medo
Preciso aprender a perdoar...
A primeira lição é me perdoar...
O mestre do mestres ainda que na cruz
Nos provou a razão de abrir mão da divindade
E se juntar a nós no caminhar da humanidade
Nos deu o exemplo a ser seguido
E ainda sim, pela nossa humanidade falha, o julgamos
Na cruz foi colocado, pelos seus foi traído
Pelos seus foi negado...
Sublimemente, em seu maior sofrimento
Eis que ali ele nos deu o seu maior exemplo
Proferiu para o mais Alto o seu rogar:
"Pai, perdoai-os, porque não sabem o que fazem"
Há quem diga que perdoar é o modo mais sublime de crescer
E pedir perdão é o modo mais sublime de se levantar
Hoje sei que preciso me libertar das amarras
Que a culpa não me levará ao caminho acertivo
Tomado pelo exemplo do Cristo, hei de conseguir meu perdão
Hei de olhar para meu espírito novamente com júbilo
Pois só aprende a dormir bem quem aprende a repousar dentro de si
Quem não cria pontes em sua mente adoece na alma
Faz descompassar o coração e se perde nas tramas da emoção
Sentir essa angústia é um privilégio dos vivos
É um dos pequenos preços que pagamos pelo dom da vida
Agradeço aos céus por hoje viver uma saudade imensa
Fico em paz por buscar o perdão
Pois dessa forma sei que conseguirei conhecer a felicidade
E ao ser perdoado, também poderei perdoar
Só há de conhecer a luz e distinguí-la aquele que um dia,
Inevitavelmente, já caminhou pelas estradas da escuridão da alma
Obrigado, Senhor, mais uma vez, pela frágil humanidade!

quarta-feira, 2 de março de 2011

Outrora poeta...

Outrora já fui poeta
Já descrevi as sombras da minha psique
As angústias que arrebatam meu ser
Fui fragmento, descompasso
Choro e fracasso
E no meio destas tortuosas trilhas percorridas e a percorrer
Somente o amor me fazia crer no porvir
Era a força motriz da minha existência
Um amor que superara o amor próprio
Que havia se tornado o alicerce da minha alma
Hoje não sou mais poeta
A poesia de outrora deu lugar ao vazio
A fonte de inspiração da qual me nutria
E que através desta renascia... Secou...
Ao caminhar em minha própria existência
Me perdi pois a perdi!
Hoje o poeta deu lugar ao caminhante
Um caminhante das estradas do conhecimento
Do auto conhecimento
Pois se em mim me perdi, hei de em mim me encontrar
E quem sabe numa nova fonte hei de beber e novamente renascer
E nunca me esquecer da primeira fonte que bebi
Que foi e ainda é a razão da minha poesia
Única e eterna, num amor inigualável
Dentro de mim, um jardim de beleza estonteante e inabalável
Que nem mesmo a maldade do tempo
E as sombras maliciosas da alma poderão apagar.

terça-feira, 1 de março de 2011

Recônditos da Psique

Se hoje olho pro meu presente, tenho algumas certezas acerca de meu futuro...

A vida é longuíssima para se errar, mas assombrosamente curta para se viver. A consciência da brevidade da vida perturba a vaidade dos meus neurônios e me faz ver que sou um caminhante que cintila nas curvas da existência e se dissipa aos primeiros raios do tempo. 
Nesse breve intervalo entre cintilar e dissipar, ando à procura de quem sou. Procurei-me em muitos lugares, mas me achei num lugar anônimo, no único lugar onde as vaias e os aplausos são a mesma coisa, o único lugar onde ninguém pode entrar sem permitirmos, nem nós mesmos.
Acerca do futuro, que eu nunca precise proferir tais palavras:

"Ah! Se eu pudesse retornar no tempo! Conquistaria menos poder e teria mais poder de conquistar. Beberia algumas doses de irresponsabilidade, me colocaria menos como aparelho de resolver problemas e me permitiria relaxar, pensar no abstrato, refletir sobre os mistérios que me cercam."
"Se eu pudesse retornar no tempo, procuraria meus amigos da juventude. Onde estão? Quem está vivo? Eu os procuraria e reviveria as experiências singelas colhidas no jardim da simplicidade, onde não havia ervas daninhas do status nem a sedução do poder financeiro."
"Se eu pudesse retornar, daria mais telefonemas para a mulher da minha vida nos intervalos das reuniões. Procuraria ser um profissional mais estúpido e um amante mais intenso. Seria mais bem-humorado e menos pragmático, menos lógico e mais romântico. Escreveria poesias tolas de amor. Diria mais vezes 'Eu te Amo!'. Reconheceria sem medo: 'Perdoe-me por trocá-la pelas reuniões de trabalho! Não desista de mim'.
"Ah, se eu pudesse retornar nas asas do tempo! Beijaria mais meus filhos, brincaria muito mais, curtiria sua infância como a terra seca absorve a água. Sairia na chuva com eles, andaria descalço na terra, subiria em árvores. Teria menos medo que se ferissem e gripassem, e mais medo de que se contaminassem com o sistema social. Seria mais livre no presente e menos escravo do futuro. Trabalharia menos para lhes dar o mundo e me esforçaria muito mais para lhes dar o meu mundo."

O passado é meu algoz, não me permite o retorno, mas o presente levanta generosamente meu semblante decaído e me faz enxergar que não posso mudar o que fui, mas posso construir o que serei. Podem me chamar de louco, psicótico, maluco, não importa. O que importa é que, como todo mortal, um dia terminarei o show da existência no pequeno palco de um túmulo, diante de uma platéia em lágrimas.
Nesse dia, não quero que digam: "Eis que nesse túmulo repousa um homem rico, famoso e poderoso, cujos feitos estão nos anais da história". E nem que digam: "Eis que jaz nele um homem ético e justo". Pois isso é mera obrigação. Mas espero que digam: "Eis que nesse túmulo repousa um simples caminhante que entendeu um pouco do que é ser um ser humano, que aprendeu um pouco a ser apaixonado pela humanidade e conseguiu um pouco vender sonhos para outros passantes...".

Fica a pergunta para todos nós refletirmos: "Como se achar sem nunca se perder?"